Prefeitura paga R$ 1,4 mi para empresa terceirizada, que demitiu merendeiras, fornecer as cestas ao custo de R$64,80 cada
São 11 itens e 12 volumes: 2 quilos de arroz, 1 quilo de feijão, 1 quilo de sal, 1 quilo de açúcar, 500g de farinha de mandioca, 1 quilo de macarrão, 1 litro de óleo, 340g de extrato de tomate, 300g de achocolatado, 400g de leite em pó, 1 pacote de biscoito. Ao todo, 21.603 alunos da rede municipal vão receber. Com atraso, a entrega começou a ser feita na quinta-feira (9). O kit de alimentos não perecíveis vale para 19 dias letivos e vai até 30 de abril. A empresa contratada pela Prefeitura para fornecer e entregar as cestas nas escolas é a Bem Nutritiva, a mesma que servia a merenda aos alunos, até a suspensão das aulas, no dia 16 de março, e que na última quarta-feira (8), comunicou a dispensa de cerca de 200 merendeiras. Cada unidade escolar da rede municipal adotou sua forma de distribuição dos kits. Familiares contaram que as escolas estão enviando mensagem para pais ou responsáveis irem buscar. A prefeitura está pagando pelos kits referentes ao mês de abril o total de R$ 1,4 mi (um milhão e quatrocentos mil reais). Cada cesta está saindo a R$ 64,80. Correndo supermercados da cidade, a assessoria da Câmara constatou que os mesmos produtos da cesta que a Prefeitura contratou por R$ 64,80 custam em média R$ 30,00. Na quinta-feira, os vereadores não pararam de receber ligações e mensagens de pessoas reclamando dos kits. O assunto também dominou as redes sociais. Este foi o tema que mais rendeu debate na última sessão virtual da Câmara. Por videoconferência, todos os vereadores se manifestaram, questionando o governo sobre a qualidade nutricional e o preço pago pelos kits.
O presidente da Casa, vereador Leonardo Vasconcellos, coautor da lei que autoriza a Prefeitura a usar recursos da merenda na aquisição das cestas para os estudantes, foi claro ao exaltar a importância de prover alimentação aos alunos no período em que as escolas estiverem fechadas, medida adotada para evitar aglomerações e o contágio do novo coronavírus. Leonardo Vasconcellos, que foi secretário de Educação de Teresópolis, explica que muitas crianças tem a merenda como principal ou única alimentação do dia, e que os kits são bem-vindos e necessários. “Um alívio para os pais, a maioria em dificuldade financeira por conta das medidas restritivas de combate ao coronavírus determinadas pela Prefeitura. Muitos já estavam ou ficaram desempregados. Outras tantas famílias vivem em situação de vulnerabilidade social. O que questionamos é o alto valor pago pela Prefeitura e a baixa qualidade nutricional dos alimentos distribuídos aos pais para manter seus filhos em casa e bem alimentados. Só tem o básico. Não há uma proteína. Faltam ovos, frango ou carne, que normalmente as crianças comem nas escolas. Também não tem nenhum item da nossa agricultura”, enumerou o presidente Leonardo Vasconcellos. Sobre o preço de cada kit de alimentos, é consenso entre os vereadores que a prefeitura pagou caro. O presidente da Câmara chegou a comparar o kit da prefeitura de R$ 64,80 com uma cesta básica mais completa vendida em um mercado do bairro de São Pedro por R$ 49,00. Vereador Da Ponte alertou sobre a “fortuna” paga pela Prefeitura na compra dos kits, dizendo que a Câmara tem que fiscalizar os gastos do governo “com lupa”. E ainda desafiou o Prefeito a dar para o seu filho comer o que a Prefeitura está dando para o filho dos outros. Vereadora Doutora Claudia se indignou com o governo por “contratar por quase um milhão e meio” para fornecer os kits a mesma empresa que demitiu as merendeiras das escolas municipais. Vereador Leleco disse que essa cesta dada aos alunos “é brincadeira”, e que não dura um mês, nem que a comida seja só para o aluno. Vereador Rock chamou o prefeito de “Vinicius Caos”, disse que a cidade tem um “desgoverno” e lançou mão de um provérbio para retratar a situação: “Quando os justos governam, o povo se alegra; quando os perversos estão no poder, o povo sofre, o povo geme”. Vereador Pedro Gil reclamou da demora na distribuição dos alimentos para os estudantes do interior lembrando que “o povo do Terceiro Distrito também tem fome”. Vereador Ronny voltou a indicar ao governo que o melhor seria dar um cartão de compras para os pais dos alunos, solução que também favoreceria ao comércio local. Vereador Dudu lamentou pelas cestas que estão sendo distribuídas pela Prefeitura, disse que “o povo está triste” e que ele está “de coração partido”. Vereador Maurício Lopes falou em juntar documentos e encaminhar ao Ministério Público para apurar os gastos da Prefeitura que, por conta do decreto de calamidade pública, está livre para comprar sem licitar, mas não pode deixar de buscar o menor preço e dar ampla transparência. Ele ainda voltou a sugerir ao prefeito que faça uma reforma administrativa, dispensando pessoas que ganham altos salários e ocupam secretarias e subsecretarias inoperantes. “Não tem cabimento a Prefeitura ter 22 secretarias na sua estrutura. Pedro Gil na Prefeitura trabalhou com treze. O prefeito tem compromisso com o povo que ganha salário mínimo ou com seus secretários que ganham supersalários de 13mil reais? Duzentas merendeiras ou dez secretários?”, indagou o vereador Maurício Lopes. Líder do governo na Câmara, vereador Jaime Medeiros foi breve ao abordar o assunto, e disse apenas que levará ao prefeito todas as reclamações sobre a cesta de alimentos dos alunos para que possa melhorar.
Durante a sessão, o presidente Leonardo Vasconcellos apresentou o comprovante de transferência bancária no valor de R$ 100 mil, dinheiro que a Câmara repassou para a Prefeitura fazer a compra de duas mil cestas básicas e distribuir para famílias de Teresópolis mais afetadas pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). O recurso entrou na conta da Prefeitura na manhã de quarta-feira (8), e até quinta-feira à noite o prefeito Vinicius Claussen não havia se manifestado para agradecer a contribuição do Legislativo Municipal e dar ciências sobre as providências tomadas para a aquisição dos alimentos.