Wolverine é canadense, o ator que interpreta o personagem é australiano, mas há um pouco de sangue brasileiro nisso tudo: Antonio Ribeiro foi um dos artistas digitais responsáveis pelos efeitos de “Logan”, filme que chegou aos cinemas brasileiros no dia 2 de março, levando milhões de fãs aos cinemas.
Desde muito cedo o brasileiro, nascido em Teresópolis, sempre esteve envolvido com filmes e videogames. “Eu ia pra casa de um amigo e ficávamos tentando fazer efeitos especiais simples com aquelas câmeras VHS. Acho que ali deve ter começado tudo”, conta.
O meio de efeitos visuais já o cercava quando ainda morava no Brasil. De 2006 a 2013 ele foi o criador e produtor do AnimaSerra, um evento que reunia profissionais de efeitos visuais da indústria do cinema e TV, animadores e profissionais de games do Brasil e até mesmo de fora do país. Ali conheceu inúmeras empresas e profissionais da área, tendo seu evento patrocinado por empresas de software 3D, animação e escolas de efeitos visuais do Brasil e do exterior.
Para ingressar na carreira de efeitos visuais, Antonio se mudou para o Canadá e ali começou a procurar seu caminho em direção ao seu sonho. Teve logo a oportunidade de trabalhar em filmes importantes como “Alice – Através do Espelho” (2016), Deuses do Egito (2016), “Ben-Hur” (2016), “Invocação do Mal 2” (2016) e na série da Netflix “The Get Down” (2016). O estúdio no qual trabalhou durante o último filme do Wolverine também foi responsável pelos efeitos de filmes como “Vingadores – A Era de Ultron”, “Robocop”, “Quarteto Fantástico”, “O Incrível Homem-Aranha 2”, “X-Men”, “X-Men 2”, “X-Men Origens: Wolverine”, “Pompéia” entre muitos outros.
“Logan”
O tipo de efeito visual desenvolvido por Antonio tem o objetivo de ser tão realista que as pessoas que assistem ao filme não podem notar que está lá e o artista conta como funciona a rotina de quem desenvolve os efeitos visuais de uma produção do nível de “Logan”.
“Meu trabalho é compor todos os efeitos e coisas que devem ser inseridas depois na cena real que foi filmada no set. Então explosões, raios, vidros se quebrando ou até mesmo remover um detalhe que o diretor não deseja que esteja ali fazem parte do meu dia a dia no estúdio”, explica.
“Fiz parte da equipe que integrou a mão mecânica de Pierce nas cenas em que o vilão aparece. Há um grande trabalho técnico e artístico para fazer com que aquilo pareça fotorrealista, ou seja: como se tivesse sido filmado junto com os atores. Há uma preocupação extrema com a qualidade e fatores como: direção de onde a luz ambiente vem, textura do objeto e a forma como ele interage com outros elementos da cena devem ser levados em conta para obter o resultado perfeito”, conta.
“Várias sequências da perseguição na limusine deram muitas horas de trabalho à equipe. A parte onde ela colide na cerca e depois dá marcha à ré e sai arrastando vários capangas é a mistura de cenas filmadas com elementos criados digitalmente. Além das cenas de substituição da mão mecânica, trabalhei também nas cenas onde os atores estão dentro do carro e na sequência final do filme”, comenta.
Antonio conta ainda que ter participado da equipe de efeitos de “Logan” foi uma oportunidade quase exclusiva: geralmente em filmes desse calibre estão envolvidos centenas de artistas digitais trabalhando em dezenas de estúdios. Porém, nesta produção, apenas 3 estúdios no mundo todo foram selecionados para o projeto, o que torna a oportunidade de ter trabalhado nos efeitos visuais desta produção algo ainda mais interessante.
“Já trabalhei em filmes que só na parte de efeitos visuais atuaram cerca de 8, 10 e até 15 estúdios com centenas de artistas envolvidos. Mas nos surpreendemos ao saber que apenas o nosso e mais 2 estúdios estavam trabalhando nesse filme. Se as pessoas soubessem o tamanho
do trabalho envolvido em uma cena, ficariam espantadas. Trabalhei em cenas por semanas e no filme elas duram poucos segundos. O nível de exigência e qualidade é altíssimo”, ressalta.
Na equipe que Antonio fez parte para os efeitos de “Logan”, foram cerca de 90 artistas trabalhando em tempo integral por vários meses. Artistas da área de texturização de objetos, animação, modelagem 3D, iluminação e composição digital foram completamente absorvidos pelo projeto e dedicaram seus talentos ao excelente resultado que podemos conferir na telona.
“Os efeitos estão ali para contribuir com a história e não para ser a atração principal. Se você assistir ao filme e não conseguir distinguir o que foi filmado do que foi adicionado depois, significa que nosso trabalho foi bem feito”, afirma Antonio.
Agora com o trabalho em “Logan” finalizado, ele está trabalhando em outros projetos que, por força de contrato, não pode revelar ainda. “A indústria de cinema e TV não para por aqui. Assim que terminamos um filme já começamos outro. Isso quando não estamos trabalhando em 2, 3 ou até 4 projetos ao mesmo tempo”, enfatiza.
Saber que as cenas em que trabalhou por meses serão vistas por milhões de pessoas no mundo inteiro é uma das partes mais gratificantes na opinião de Antonio. Ter seu nome nos créditos finais também é uma sensação incrível, segundo ele. “Tenho recebido muitas mensagens por redes sociais e também de familiares e amigos que foram ao cinema ver o filme só porque souberam que trabalhei nele. Isso me deixa muito orgulhoso e com a certeza de que essa carreira que escolhi ainda me trará muito mais realizações”, conclui.