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Prefeitura de Nova Friburgo, RJ, confirma saída de secretária após áudio vazar; ‘que opere o paciente ou que ele morra’

A Prefeitura de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, confirmou a saída de Tânia Trilha, secretária de Saúde, na noite desta terça-feira (11), após um áudio que ela enviou para o então diretor médico do Hospital Raul Sertã, Arthur Mattar, vazar na internet. Na mensagem de voz, ela diz:

“Arthur meu querido, olha só! Eu preciso só que resolva; que opere o paciente ou que ele morra, entendeu, pra gente se ver livre do problema, mas é só o que eu preciso porque eu tenho que cumprir uma decisão judicial, você me ajuda nisso por favor? obrigada meu querido”, diz.
A Prefeitura confirmou ao G1 que o áudio foi enviado pela secretária, mas não disse a data.

A secretária enviou para a equipe da Inter TV uma nota justificando o áudio (veja na íntegra abaixo). O texto também foi publicado na página de Tânia em uma rede social. Ela diz na nota que enviou a mensagem de voz em um grupo privado: “Eu disse com ênfase às frases veiculadas no áudio de forma isolada, buscando não a morte do paciente, mas a resolutividade da circunstância”.

No texto, a secretária afirmou ainda: “Entendo que a conduta de divulgar um áudio de um grupo privado de direção descontextualizada, é um ato criminoso e no mínimo antiético que não merece crédito, pois se vale de um momento político e de julgamento daqueles que desconhecem a minha postura integra, profissional e acima de tudo humana. Sendo certo que as medidas judiciais cabíveis serão tomadas”.
Em maio, o diretor médico pediu demissão do cargo. Na época, Arthur Mattar disse que o motivo foi: “por não compactuar com esta gestão da Secretaria Municipal de Saúde, onde os valores judiciais são mais importantes que os valores humanos”.

Nesta terça-feira (11), o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) publicou na internet uma nota de repúdio e disse que vai entrar com uma representação de improbidade administrativa no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por violação do princípio da moralidade administrativa. (Veja a nota na íntegra abaixo).
O Cremerj diz que: “repudia todo e qualquer tipo de coação ao médico que o iniba de praticar da melhor forma seu trabalho e possa colocar em risco a vida do paciente”.

O Conselho afirma ainda que “o Código de Ética respalda todos os procedimentos médicos, protegendo não só o paciente, assim como o médico em questão e diz que este tipo de atitude da Secretária fere, frontalmente, os princípios fundamentais deste Código de Ética!” .

O presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Nova Friburgo, Wellington Moreira, encaminhou o caso para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).

Em nota enviada para a Inter TV, a Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Nova Friburgo informou que a notícia foi autuada como representação e que foram adotadas medidas para aferição da legalidade e autenticidade da gravação.

Resposta Secretária
Em 23/01/2019, recebemos um mandado judicial para internação de um paciente no CTI. Como De costume, falamos no grupo restrito da Direção do hospital Raul Sertã, em que participavam eu, o Diretor Médico na ocasião, Arthur Mattar, a Diretora Geral e a Subsecretária de Atenção Hospitalar, vez que sempre conversávamos de forma privada em tal grupo, sobre o direcionamento das condutas a serem realizadas.

Ressalvando que as condutas médicas não eram de minha competência, pois o médico dirigente, era o Dr. Artur, que no caso do referido paciente, ele mesmo já havia nos informado da situação de risco de morte e que só teria vaga no CTI do nosso hospital se alguém morresse, ou seja, se tivesse “alta celestial”, palavras frequentes do Dr. Arthur.

O paciente, segundo o Diretor Médico, tinha a saúde completamente debilitada, necessitando fazer uma cirurgia e o mandado determinava a internação dele no CTI.

Nosso hospital não tinha leito de CTI vago. Autorizei de pronto a internação dele em um hospital privado da municipalidade, arcando a administração pública com o custo e demais despesas necessárias à acomodação do paciente no CTI, prática reiterada, por vezes, pois nossa gestão prima sempre pela vida.

Prática essa que aprendi em casa com a minha família e a pratico no dia a dia por aqueles que comigo convivem, sendo fácil comprovar.

Após horas e horas de discussão que se prolongou até o dia 24/01, a respeito da situação do paciente, se primeiro seria feita a cirurgia e depois a sua remoção para o CTI, ou vice versa, aguardando posicionamento do Diretor Médico quanto ao contato com os profissionais que realizariam a cirurgia e quanto a decisão se o paciente estava estável o suficiente para suportar o procedimento, eu disse com ênfase às frases veiculadas no áudio de forma isolada, buscando não a morte do paciente, mas a resolutividade da circunstância.

Entendo que a conduta de divulgar um áudio de um grupo privado de Direção descontextualizada, é um ato criminoso e no mínimo antiético que não merece crédito, pois se vale de um momento político e de julgamento daqueles que desconhecem a minha postura integra, profissional e acima de tudo humana. Sendo certo que as medidas judiciais cabíveis serão tomadas.

Nota Cremerj
O CREMERJ vem a público denunciar e repudiar um descalabro que aconteceu em uma unidade de saúde, em Nova Friburgo.

Abaixo a transcrição do áudio com um pedido da Secretária Municipal de Friburgo, Tânia da Silva Trilha, ao antigo Diretor do Hospital Municipal Raul Sertã, Artur Mattar:

“Arthur meu querido, olha só! Eu preciso só que resolva; que opere o paciente ou que ele morra, entendeu, “pragente” se ver livre do problema, mas é só o que eu preciso porque eu tenho que cumprir uma decisão judicial, você me ajuda nisso por favor? obrigada meu querido”.

O CREMERJ, em defesa da população e da boa prática médica, repudia todo e qualquer tipo de coação ao médico que o iniba de praticar da melhor forma seu trabalho e possa colocar em risco a vida do paciente!

O Código de Ética respalda todos os procedimentos médicos, protegendo não só o paciente, assim como o médico em questão! E este tipo de atitude da Secretária fere, frontalmente, os princípios fundamentais deste Código de Ética!

A Constituição Federal em seu artigo 5, afirma que “a vida é direito inviolável”. Nenhuma decisão judicial, lei ou qualquer decisão pode se sobrepor a esse mandamento.

Os Médicos são os guardiões deste direito e o Conselho Regional de Medicina, fiscalizador e atuante, está indignado com esta franca violação.

Ao gestor público cabe zelar pela vida e pela moralidade dentro do serviço público. A atitude que presenciamos é um descalabro. O CREMERJ ingressará, no dia de hoje, com representação de improbidade administrativa no Ministério Público do Rio de Janeiro por violação do princípio da moralidade administrativa.

O alvo de toda atenção é e sempre será o paciente!

Fonte: G1

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