Acordar no meio de uma poça de xixi é uma sensação desconfortável para as crianças e um trabalho a mais para os pais. Episódios de escapes durante a noite são normais até os 5 anos, mas depois depois podem caracterizar enurese noturna. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), 15% das crianças acima dessa idade ainda fazem xixi na cama. Com 10 anos, a porcentagem cai para 5%.
— Qualquer perda noturna regular (uma vez por semana ou algumas vezes ao mês) já pode ser caracterizada como uma enurese noturna. Mas se a criança, em um ano, só apresentou um episódio, após uma festa, por exemplo, aí não tem problema — explica Atila Rondon, professor da Uerj e coordenador do Departamento de Urologia Pediátrica da SBU.
A condição pode estar ainda relacionada a fator genético: se o pai ou a mãe fizeram xixi na cama na infância, o filho tem 44% de chances de apresentar a enurese. Se os dois sofreram com o transtorno, esse índice sobe para 77%.
Além disso, a criança que tem enurese pode ter uma deficiência na liberação da vasopressina noturna (substância que diminui a produção de urina durante a noite), assim como apresentar bexiga pequena para a idade, problemas na estrutura do trato urinário e dificuldade de acordar à noite quando a bexiga está cheia. Para o tratamento, podem ser indicados medicamentos.
— Quando a criança não consegue segurar o xixi nem durante o dia, fazemos um tratamento voltado para o bom funcionamento da bexiga. Se a enurese for um sintoma único, há tratamento específico — afirma Átila.
Castigo não ajuda no tratamento
Ter um acompanhamento psicológico durante a fase de tratamento faz bem para a criança e sua família. A orientação profissional vai ajudar os pais a ensinarem o filho a lidar com a situação desconfortável que é fazer xixi na cama.
— Isso ainda é ligado à imagem de bebê, como aquele que precisa usar fralda porque não consegue se segurar. Então a criança se sente menosprezada — diz Luciana Brites, psicopedagoga e uma das fundadoras do Instituto NeuroSaber.
De acordo com a especialista, os pais devem acolher o filho e informá-lo que outras crianças também passam pelo problema. Se for o caso, podem contar a própria experiência de quando era pequeno. Por outro lado, deixar de castigo não é uma solução, já que a criança não tem controle.
Fazer xixi na cama afeta também a questão social da criança: ela passa a não querer ir dormir na casa dos amigos.
— Os pais devem conversar com o responsável do colega e explicar a situação para que a questão seja tratada com naturalidade — orienta Luciana.
FONTE: Jornal Extra