A primeira vacina no mundo contra o Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya, zika e febre amarela está sendo desenvolvida no Brasil, segundo pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) .
Ela induz a produção de anticorpos que interferem no ciclo vital do mosquito, danificando seus sistema reprodutivo e até mesmo levando-o a morte. A vacina não protege contra as doenças, mas promete eliminar o vetor.
“O indivíduo imunizado funciona como um ‘veneno’, afetando o organismo do Aedes aegypti, diminuindo gradativamente sua população e reduzindo a incidência das doenças transmitidas por ele. O estudo demonstrou que é possível reduzir até 60% dos mosquitos a cada geração”, disse o professor Rodolfo Giunchetti, coordenador da pesquisa.
A vacina conquistou sua primeira patente no início deste ano. Outras quatro estão sendo analisadas pela universidade. Pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), do Instituto Butantan e da Fiocruz também participam do estudo.
Depois de quatro anos de pesquisa, ela está pronta para a fase de testes em macacos. Porém, não há verba.
“Nós chegamos em um ponto em que contamos apenas com financiamento parcial do Ministério da Saúde, do CNPQ e da Capes. Mas ele não é suficiente para dar seguimento à pesquisa. Aliás, este financiamento acaba em menos de um ano e meio. É desanimador”, disse Giunchetti.
Cortes
Desde 2015 que as verbas destinadas a pesquisa vêm diminuindo nas universidades. Só no ano passado, o repasse previsto pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) passou de R$ 5,81 bilhões para R$ 3,27 bilhões quando 44% do orçamento foi congelado, na tentativa do governo federal de cobrir parte de um rombo de R$ 58 bilhões.
A previsão para 2018 é que a pasta receba R$ 4,6 bilhões do orçamento da União. Há cinco anos, a verba era de R$ 9,4 bilhões.
“A nossa situação é calamitosa. Nós não temos dinheiro para trabalhar com pesquisa. Acabou pesquisa no país”, lamentou o professor.
O projeto da vacina contra o Aedes aegypti começou a partir de um outro estudo iniciado em 2010. A mesma equipe de Giunchetti havia desenvolvido um método que eliminava o mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis) através da imunização de cães.
“A pesquisa foi um sucesso. Ela teve seis patentes. Porém, a vacina não está no mercado porque o estudo teve que ser interrompido por falta de recursos”, disse o pesquisador.
Caso o desenvolvimento da vacina contra o Aedes aegypti não fosse ameaçado pelos cortes de verbas em pesquisa, a previsão é que o Sistema Único de Saúde (SUS) poderia começar a imunizar a população dentro de cinco anos.
“A sociedade brasileira é imediatista. Queremos mais hospitais, o que é importante. Mas não entendemos que financiamento em pesquisa é fundamental para combatermos doenças. É uma questão de saúde pública”, falou Giunchetti.
Fonte: G1