A vida de Luciene dos Santos Costa seguia de forma normal há cerca de 18 anos. Ela estava grávida e fazia os preparativos para o nascimento do filho, mas as complicações durante o parto mudaram o destino da família. Segundo informações, um erro médico comprometeu a medula da jovem, que foi sentenciada a passar o resto da vida numa cadeira de rodas. Na ocasião, o hospital que havia prestado o atendimento teve que responder, juntamente com o médico, na justiça. A causa chegou a ser ganha, mas nada mudou a realidade dela. Hoje, quase duas décadas depois, a paciente ainda colhe os frutos do engano, mas não está recebendo, do município, o tratamento devido.
Na atualidade, a situação da saúde em Teresópolis ficou ainda mais complexa. Exames, cirurgias e até acompanhamento médico, pelo SUS, Sistema Único de Saúde, tiveram acesso restrito. Faltam vagas para internação e as consultas demoram a ser marcadas. E é exatamente isso que compromete a saúde de Luciene. Devido ao tempo que gasta em cima da cadeira de rodas, uma ferida foi aberta em sua perna. De acordo com os familiares, ela chegou a ser internada, mas logo foi dispensada para acompanhamento ambulatorial. O problema é que, por causa da debilidade física, a família não tem condições de levar e buscar a paciente com frequência, já que ela não anda. E, na situação atual, nem pode ficar na cadeira. Sem contar a demora para conseguir acompanhamento. Daí, a internação seria a forma mais eficaz de solucionar o problema e evitar que algo mais grave aconteça.
Estivemos na UPA, Unidade de Pronto Atendimento, que foi o último lugar a atender a paciente. Fomos informados, no entanto, que o caso requer atenção e que um acompanhamento ambulatorial precisa ser iniciado com urgência a fim de que a ferida seja tratada e contida, já que o buraco na perna está aumentando. Daí voltamos ao ponto de partida. Além da impossibilidade de locomoção da paciente, a localização da residência se torna um empecilho a mais. Ela mora na parte final do Fisher, onde nem o ônibus chega. Sem recursos, a família pede ajuda para conseguir vaga em algum hospital da cidade até que o tratamento possa ser continuado em casa. “Minha mãe está jogada na cadeira de rodas há 18 anos depois de uma anestesia errada na espinha quando ia ganhar o meu irmão, o Luís Gustavo. A situação dela só vem piorando. Ela já foi internada quatro vezes, mas eles não terminam o tratamento e mandam ela com essa ferida enorme pra casa. Na Upa eles passaram remédio e mandam pra casa, porque não podem internar lá. A gente gasta muito dinheiro com fralda, remédio. Não temos mais recursos pra médicos. A gente tá vendo o jeito de perder a minha mãe por falta de atendimento. A gente vai lutar até o fim pra salvar a vida dela”, desabafou o filho mais velho, Luciano Costa Pacheco.
A própria paciente conversou com a equipe do Teresópolis Jornal. “Disseram pra mim que não tinham como internar, que eles só internam casos muito graves e que não estão aceitando internação de ninguém. Depois me internaram e me mandaram embora desse jeito. O que mais eles querem? Eu não posso nem mais usar a cadeira de rodas, estou morrendo em cima de uma cama. O médico me explicou que a ferida que está saindo em mim é por causa da cadeira. Tá um buraco enorme, cabe uma laranja dentro. O meu corpo tá sendo comido, estou apodrecendo e preciso de ajuda”, contou Luciene.
Além disso, a cadeira que utiliza está em estado precário. Daí é necessário trocar por outra mais nova, até para evitar contaminação. Com a ferida aberta, a paciente fica exposta a infecção. “Essa não é a primeira vez que essas feridas acontecem. Minha cadeira está muito velha. Gostaria até de pedir a doação de uma. O dinheiro que ganhei com a indenização, lá atrás, já foi gasto com o tempo. Hoje a gente não tem mais recursos pra investir. O meu salário vai todo com fralda e remédio. Tem umas que me dão alergia e machucam. Eu perdi a minha juventude nessa cadeira. Eu nasci boa! Fiquei ruim por causa de um erro médico e hoje não tenho outra alternativa a não ser pedir ajuda. Antes eu tinha ânimo pra vida, hoje estou morrendo às minguas. Eu não posso sair pra fazer o tratamento. Preciso me internar pra ficar boa. A perna está inchando, o médico me disse que a circulação foi comprometida. Não posso perder a perna. Por favor, me ajudem”, lamentou diante das câmeras.
O fato é que esse não é o único caso e nem será o último que comprova a dificuldade dos teresopolitanos em obter tratamento na cidade. Se não fosse a mídia, talvez ninguém saberia, assim como não se sabe o número de pessoas que não tiveram a mesma chance, a de tentar sobreviver. Muitas acabam perdendo a luta para as doenças ao longo do tempo, na fila de espera pelo atendimento. Porém, é preciso correr contra o tempo para evitar que a situação se agrave.
Quem puder ajudar com fralda ou com a doação da cadeira, pode entrar em contato com a redação, através do telefone 3643-1111.